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terça-feira, 10 de maio de 2016

O MEDO DE TER MEDO: Lidando com o transtorno de ansiedade

"Eu me lembro do meu primeiro ataque de pânico muito bem.  Eu estava passando por uma separação difícil e tinha acabado de chegar a Congonhas.  Eu estava andando sozinha e de repente as luzes ficaram mais claras e parecia que havia muito mais gente em minha volta. Eu me senti pequena e vulnerável, como se algumas dessas pessoas pudessem me fazer mal se quisessem. Meu joelho sobrou e eu entrei em colapso, tentando me segurar na parede do corredor.  Achei que fosse morrer.  Isso apareceu do nada e nunca passei por nada parecido na minha vida antes..." (Angélica)*

Ele estava sentado em sua cadeira de dentista cuidando de um paciente quando de repente uma palpitação intensa, falta de ar e dormência o dominaram. Com todas as suas forças, para não apavorar o cliente, despediu-se dele e ligou imediatamente para o seu colega cardiologista.  Este o aconselhou atravessar a rua e ir até o seu consultório.  O dentista não conseguiu, simplesmente suas pernas perderam o comando no meio da rua.  Socorrido pelo colega foi diagnosticado com crise de pânico (relato do meu cardiologista sobre seu colega)


Eu estava sentada lanchando, vendo televisão num dia normal como outros.  De repente parece que a sala se fechou sobre mim, meu coração acelerou de tal forma que parecia querer sair pela boca, formigamentos pelas mãos e braços me sinalizaram que alguma coisa muito estranha estava acontecendo. Coração,infarto? Um medo apavorante tomou conta de mim. Medo de morrer sozinha, medo de alguma coisa que não sabia exatamente do que. Deixei o lanche de lado, e respirando fundo e repetindo para mim mesma, como um mantra, que estava tudo bem, peguei o celular que estava ao eu lado (não me levantei do lugar), liguei pro meu marido e pedi que ficasse comigo no telefone e se acontecesse alguma coisa viesse correndo. Eu não conseguia explicar o que estava acontecendo.  Consegui me levantar e fui para fora do apartamento, interfonei para uma vizinha (que veio me ajudar) e liguei para uma amiga que morava perto. Embora, eu já estivesse um pouco mais calma, o coração não desacelerava.  Resolvi ir à uma Emergência, mesmo tarde da noite.  Graças a Deus fui muito bem atendida e o médico disse que eu estava tendo uma crise de pânico. Que todos aqueles sintomas tratavam-se de transtorno de ansiedade, no qual crises de desespero e medo intenso, de que algo ruim aconteça te dominam. Fui medicada com algumas gotas de rivotril e voltei pra casa com a sensação de que um trator tinha passado por cima de mim.

É assim que começa. Do nada, e você passa a ter medo de sentir medo. Pode acontecer com qualquer um. Nunca, nem nos meus piores pesadelos eu me imaginei nessa situação.  Logo eu? Uma pessoa tão otimista, tão firme na fé e no poder de Deus. Por que?

Até conseguir o atendimento com um especialista (escolhi um neurologista que eu já conhecia)foram os piores dias da minha vida. Medo, o medo me dominava. E quanto mais medo você sente mais difícil é controlar a crise.  Um sentimento de impotência horrível, sensação de que nunca mais você vai ficar em paz novamente. 

Não tive medo da rua (embora nos primeiros dias, me angustiava sair de casa. Mas, me assustava ouvir o vizinho abrir a porta, entrava em pânico, criava na minha cabeça toda sorte de acontecimento ruim que podia acontecer comigo.  Não consegui dormir sozinha, mas o fato de ter alguma companhia não diminua meu pânico. O medo vinha de qualquer maneira. Apenas ficava segura pois caso eu não conseguisse dominá-lo, eu teria alguém para me ajudar.  Um dia fiquei em casa sozinha, tentando fazer meus trabalhos manuais, mas não conseguia me concentrar.  Qualquer barulho me apavorava, me desesperava.  Eu parei tudo, gritei comigo mesmo que eu não era louca, que eu precisava dominar meus sentimentos, que nada de mal estava me acontecendo.  Consegui me controlar e passei bem o dia. Mas no final do dia, estava esgotada, parecia que havia lutado numa batalha, por causa da descarga de adrenalina.

Estou me medicando há quatro meses, segundo o médico é preciso cuidar desde o início.  E levar à sério o tratamento sem interromper.  Para deixar controlada a síndrome do pânico, são preciso pelo menos dois anos segundo os especialistas.

Controle. Saber que você não vai morrer de ataque cardíaco, porque o coração quer sair pela boca; 
Respirar fundo e soltar devagar, para ir desacelerando;
Evitar situações de estresse;
Encontrar e fazer coisas que te deixam em paz;
Sair e levar uma vida normal;
Aprender a conviver com isso, pois uma vez instalada, não tem cura. Mudança de hábitos, remédio e terapia são sugestões para um melhor controle das crises.

Resolvi compartilhar isso aqui, porque quando compartilhei com os meus amigos o que estava acontecendo comigo, muitos ficaram tão surpresos quanto eu, justamente pelo tipo de pessoa que sou, sempre tão alto astral. Mas, houve também muitos relatos de pessoas que estavam passando ou já haviam passado pelo mesmo problema, e como estava lidando com isso.

Conversar, compartilhar experiências sempre é uma boa opção para diminuir o drama do nosso cotidiano. Saber que não estamos sozinhos nos ajuda a vencer o problema.




- Imagem:O Grito -  Edvard Munch
*http://ansiedadepanico.com/2015/05/25/14-relatos-da-sindrome-do-panico-vivendo-com-a-ansiedade/

domingo, 11 de outubro de 2015

Câncer: Reflexão da vida?

 (Foto: internet/reprodução)
Passo em frente ao hospital do câncer (INCA) todos os dias na ida ao trabalho.  Vejo sempre a dor e o sofrimento nos rostos das pessoas, sejam elas as doentes ou seus parentes. Ouço também comentários (de dentro do ônibus onde estou) que, junto aos meus próprios: "esse lugar é triste, quanto sofrimento!".

Sei bem o que é estar em um hospital, passar dias nele, já estive em vários quando criança, por causa da artrite.  Mas, esse, em especial, nos causa uma sensação de "fim de linha", de "dias contados".  Receber um diagnóstico de câncer é datar a morte, segundo alguns. Além do sofrimento causado pelo tratamento, é preciso lidar com a ideia de finitude da vida, coisa que o mais letrado e cético dos mortais ainda não sabe fazê-lo.  E, talvez essa seja a nossa maior tragédia.  Afinal, se fosse possível tratar ou curar todos os tipos de câncer e nos livrar do espectro da morte, estaríamos mais confiantes. 

Mas, essa postagem não estaria aqui se não pudéssemos tirar alguma coisa boa, algum ensinamento disso tudo.  A morte é inevitável e ela virá, mais cedo ou mais tarde.  E ter conhecimento que ela está próxima é o que nos apavora.  E, isso pode ser diferente? 

Para muitos que sobreviveram ao tratamento, geralmente acontece uma mudança de vida.  Aproveita-se melhor cada momento, dedica-se mais às coisas que realmente valem à pena.  Muitos dos que não têm chance de cura, aproveitam para estar com entes queridos ou fazer o que mais gostam.

Há poucos meses um médico britânico disse que câncer é a "melhor morte", "você pode dizer adeus, refletir sobre a vida, deixar mensagens, visitar lugares especiais pela última vez, ouvir as músicas favoritas, ler poemas e se preparar, de acordo com suas crenças, para encontrar seu criador ou curtir o esquecimento eterno". Polêmicas à parte, é o que fizeram algumas pessoas com diagnóstico de câncer terminal. 

Perdi há alguns anos atrás, o meu pastor (sou batista), líder carismático, inteligente, muito querido por nossa igreja.  Foi diagnosticado com câncer terminal muito agressivo.  Após inúmeros tratamentos (oficiais e em teste) a batalha foi perdida e sua vida reduzida a 3 meses (contrariando o prognóstico, viveu bem mais de um ano). Durante esse período aproveitou seu tempo com os amigos, com os irmãos em Cristo, com seus familiares, aconselhou seus filhos e despediu-se da esposa. Despediu-se de sua igreja, num dos cultos mais lindos que já fiz parte, cantou, chorou, sorriu, viveu, partiu. 

Há um ano atrás também perdi uma das mais queridas e competentes fisioterapeutas que eu conheci.  Após o diagnóstico de câncer no pulmão, bem agressivo, também fez tudo que pôde para vencê-lo. Enquanto se tratava dedicou-se a fazer tudo que não tivera tempo de fazer ainda. Viajou, fez um curso que sempre teve vontade de fazer, dedicou-se ao filho, à família e aos amigos; continuou firme em seu trabalho, dando cursos e incentivando os novos fisioterapeutas, o que mais gostava de fazer. Compartilhou sua história, viveu, despediu-se, partiu. 

Em seu livro "Por Um Fio", o médico Drauzio Varella, mostra, através de diversos relatos de pacientes com câncer, como a perspectiva da morte pode revelar inesperados sentidos para a vida.  Então, se é possível, por meio do sofrimento e da dor, tirar algum aprendizado, que este seja libertador, ou divisor de água, que dê mais sentido ao que estar por vir, sendo este imediato ou não. E, que a esperança, esta sim esteja sempre conosco.