quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O FILHO DO PORTEIRO CAÇA POKÉMON

Eu saía do consultório de um edifício comercial, quando um garotinho colocara a cabeça de fora de uma porta, perguntando ao pai se ele já podia "caçar" pokémon.  Era umas sete horas da noite e o pai estava na portaria.  Eu sorri pelo jeito como ele perguntou, aquele jeitinho que pergunta, "posso agora pai, posso?".  Provavelmente apelando para o afrouxamento do controle do pai, e sorria porque aquele menininho também participava da nova mania nacional, que era o novo jogo. Por ser online, era necessário que aquele menino, filho do porteiro tivesse um smartphone com internet e com uma boa capacidade de desenvolvimento, o que gerava um investimento financeiro alto.  Sim, aquele menino era mais um dentre tantas crianças, que hoje, podiam compartilhar dos mesmos bens que há algum tempo atrás não era possível para famílias que tinham como profissão trabalhos, em portaria de prédios, domésticos, de faxinas e outros.  

Eu me lembrei de quando era criança e morava com minha mãe na casa em que ela era doméstica. Eu cresci com os netos de sua patroa e, portanto, os únicos brinquedos "maneiros" que eu brincava eram os deles. A tecnologia da internet ainda não era acessível para nós no Brasil, nem para os ricos, muito menos para os pobres.  Os brinquedos da moda eram aqueles eletrônicos e alguns de computadores ainda bem rudimentares, mas que para a época eram uns fenômenos.  Quem não lembra do Atari ou Master Syster? E os joguinhos Aquaplay e Genius?  Além das bonecas Bate-Palminha e Tchibum, que nadava?  Todos da empresa Estrela, e todos muito caros.  Eu não tinha nenhum dele, apenas brincava emprestado. A minha mãe não tinha salário suficiente para que pudesse me dar qualquer um daqueles brinquedos.

É claro, que ainda há muitas crianças sem acesso à brinquedos da moda ou da tecnologia dos pokémons do momento, mas o que as estatísticas têm mostrado é que isso vem mudando bastante nas últimas décadas com o aumento do poder aquisitivo das classes de rendas mais baixas. 

Na última pesquisa em que trabalhei, PeNSE 2015,  verificamos que quase 90% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas declararam possuir celular, e mais de 80% tinha acesso à internet de alguma maneira. Ou seja, a galera está conectada com a modernidade. 

E, embora haja muitas críticas quanto ao uso demasiado das redes e jogos eletrônicos, eu fico muito feliz em ver esse hiato entre as crianças com menos recursos econômicos e os mais favorecidas, bem menor que anos atrás.  E, dessa forma, podendo juntas, "caçar" pokémons.




Imagens:http://br.ign.com/pokemon-go/31518/news/pokemon-go-confira-o-visual-dos-151-monstrinhos
codigofonte.uol.com.br