quarta-feira, 23 de junho de 2010

SARAMAGO

Fui tomada de surpresa quando soube, pelos noticiários, da morte de José Saramago. É sempre com muito pesar que encaro a morte de alguém, principalmente, quando se trata de alguém muito inteligente, um gênio, alguém com um conhecimento acumulado, impossível de ser deixado mesmo em suas obras, mais tarde imortalizadas. Pra mim, mais do que uma morte física, é uma morte intelectual; perdemos muito mais do que um corpo, perdemos um mundo de idéias, ideais, lutas, história que levou muito tempo pra ser construída. E de uma hora pra outra! Tudo acaba! E Saramago é mais um desses gênios que nos deixa órfãos de sua sabedoria.

Não sou conhecedora de sua obra, este ilustre português, que tantas vezes esteve no Brasil. Era do tipo, ame-o ou odeio-o. Era comunista, antireligioso, ateu! Muito crítico! Antipático, muitas vezes! Mas, segundo a crítica especializada, um grande escritor, entre outras coisas!

Ouvi falar de Saramago quando ele escreveu "O Evangelho Segundo Jesus Cristo".
Na época, eu estava no meu fevor religioso, nem conhecia ainda as Ciências Sociais,
e sem nem conhecer o conteúdo do livro, já o odiei como tantos outros fizeram. Jesus humanizado, uma heresia! Nunca o li!

Mais tarde, em 1995, já menos "religiosa", mais crítica, uma amiga me emprestou "Ensaio Sobre a Cegueira" dizendo que eu ia gostar muito, pois parecia com o tipo de leitura que eu gostava.

De primeira, achei super difícil ler aquela forma diferente de escrita. Sem vírgula, frases enormes, períodos compridos, nada convencional. Não existiam travessões e os diálogos dentro dos parágrafos, me confundiam bastante, às vezes me fazendo reler tudo novamente.

Mesmo com dificuldades iniciais, quando peguei o jeito, adorei o livro! Fiquei muito impactada com a leitura. O filme, produzido pelo diretor Fernando Meirelles, nem de perto, causa tanto impacto (minha opinião). Talvez, porque na leitura não havia imagens e a construção delas estava na nossa própria consciência, e, juntos com os personagens nos tornávamos meios cegos também. Víviamos o sofrimento também. Muito forte!

Depois dessa leitura, achei que amaria todos os livros de Saramago, e aí empolgada emplaquei no "Todos os Nomes", obra de 1997, cujo autógrafo do autor eu consegui na Bienal de 1998, no mesmo ano, se não me engano, em que ele ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Pois é, enfrentei uma fila longa para comprar o livro e conseguir o autógrafo de Saramago!

O livro? Não consegui sair das primeiras páginas. Já tentei várias vezes, mas não vai!! Mas o tenho como desafio! Até porque, falando sobre ele à um grande amigo e amante de Saramago, ele me disse que é uma grande obra, aliás, incluída como uma das maiores. Então, o desafio ficou maior ainda!

Por último, ganhei de uma outra amiga, "O Ensaio sobre a Lucidez". Li, demorei, mas li. Mas não gostei tanto como o sobre a cegueira!

Agora, além de ler o livro sobre o Sr José (personagem principal de "Todos os Nomes"), lerei ainda "O Evangelho Sobre Jesus Cristo", já estou pronta para lê-lo.
E, quem sabe assim, passo a ler outras obras suas?


“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem” (Ensaio Sobre a Cegueira)

Nenhum comentário:

Postar um comentário