Ter memórias é faculdade de quem envelhece, de quem tem coisas pra lembrar.
Um perfume, uma comida, momentos que fizeram parte de nossa infância, nossos amigos de escola. Família, as brincadeiras com os irmãos e primos. As guloseimas da avó, as brincadeiras do avô. Aquela casa, onde passamos toda a infância e parte da juventude; os vizinhos com quem crescemos apertando campainhas e correndo. As bonecas, os namoricos, os bilhetinhos. Aquele cheiro de bolo, para o lanche da tarde, as matinês. Os sons, as músicas, as trocas, os sonhos, as lutas, as conquistas, as vitórias, as derrotas, a vida. Esta, que vai deixando um rastro de recordações, nos fazendo lembrar que vivemos. Muitos vivem nas nossas memórias, vivemos nas memórias de outros. E essas memórias viram poesia nas letras do poeta. Das memórias de um amigo, refaço meus passos rumo ao passado, me relembrando do que já vivi, do que já me fez feliz, do que me fazia inocente e otimista. Das memórias do amigo me lembro que fui jovem, cheia de sonhos e certezas. Ainda temos sonhos, ainda temos lutas, algumas incertezas, mas ainda vivemos.
da série poeminha pros amigos
pra Goreth:
gostava das tardes à toa no
quintal
do papagaio, dos gatos e
passarinhos
gostava da velha mangueira que
nos
assistia ali falando das nossas
juventudes
eram tardes
era tão cedo pra sabermos de
tudo que achávamos
que sabíamos
a casa bonita
tua mãe bonita
são miguel que nos guie à rua
pois a rua do santo é o que mais
me alembro desta época
outras ruas que nos caibam
pois a amizade nunca é demais
pois o riso nunca é frouxo
diante deste tempo de tão
raros quintais como aquele
que avistamos para hoje.
Gil Maulin
vitória 07 de abril 2016