Acho que qualquer pessoa que já teve alguma doença crônica na infância já teve uma mãe que apelava para todas as formas de cura ou qualquer coisa que minimizasse as dores e sofrimento do filho ou filha. A minha não podia ser diferente.
O envolvimento da minha família nesse processo sempre foi total. Todos, de tios à avó, de alguma forma contribuíram para que eu tivesse o mínimo impacto negativo da doença. Na década de 70, início da minha artrite, o conhecimento e o tratamento eram quase nenhum, ainda mais na cidade de São Luis, com muito pouco recursos.
Portanto, de beberagens à cirurgia espiritual, eu experimentei de tudo. Nem sempre com o meu total consentimento, mas sempre na esperança de que a qualquer momento sairia andando sem dor e sem deformação alguma nas articulações. Isso nunca aconteceu, mas também nunca me deixou traumatizada. Acredito até que de uma forma ou de outra todas essas ajudas me tornaram quem sou hoje.
A minha memória é muito falha, já que só tinha uns 5 anos na época, mas lembro perfeitamente das beberagens que minha avó (com um pouco de seus conhecimentos indígenas) preparava para mim. Não faço ideia do que eram feita, mas não posso sentir cheiro de bebida alcoólica que me lembro desse tempo, em que eu tinha que tomar o preparado e tomar banho frio. Até hoje odeio banho frio!
No final dos anos 70 mudei para o Rio de Janeiro, vim morar com minha mãe que já havia vindo trabalhar como doméstica na Cidade Maravilhosa. Era o início de novas possibilidades na cidade grande e com muito mais recursos para o tratamento da artrite. Eu tinha 9 anos de idade, uma saúde muito frágil e a doença em plena atividade.
Lembro-me de certa vez ter ido a uma igreja evangélica, levada por senhor muito bondoso (que trabalhava na mesma casa de minha mãe). Lá, orações foram feitas, espíritos maus expulsos (se houvesse algum) e voltamos. Não senti nenhuma melhora no quadro geral. Orações evangélicas sempre fizeram parte do meu cotidiano quando morava com minha tia, em São Luis. Ela sempre foi da Assembleia de Deus e, portanto, estávamos todos os domingos na igreja. Além dos cultos tradicionais participávamos dos círculos de orações e na pauta sempre havia uma oração pela minha saúde. Lembro que já adolescente, em férias (passava todas as férias em São Luis), fui levada à casa de "uma irmã" que orava e curava. Ao sair de lá fui informada que havia sido curada, bastava que eu cresse. Acordei durante semanas esperando uma cura milagrosa, como não acontecia achava que não havia tido fé suficiente. Depois de um tempo parei de pensar no assunto.
Em torno dos 11 anos fiz minha primeira cirurgia no quadril, isso me fez parar de usar muletas, motivo pelo qual minha mãe foi pagar promessa à Nossa Senhora da Penha, no Rio de Janeiro. Sempre digo que mãe faz promessa para o filho pagar. Pois, eu tive que subir os 365 degraus da igreja segurando uma vela do meu tamanho em agradecimento ao sucesso da cirurgia. Com certeza, subir todos esses degraus já podia ser considerado um milagre!
Por fim, mas nunca por último, porque meu nome sempre está em algum grupo de oração, me fizeram uma cirurgia espiritual. Fui operada por algum espírito que não sei qual. Mas, não precisei ir ao centro espírita, foi em casa mesmo, no horário determinado. Sinceramente, nunca soube se houve alguma diferença.
Fui católica até os 19 anos, depois me converti ao protestantismo e nele estou até hoje. Não me lembro (salvo os dias de desespero de dores) de ter pedido para ser curada, de forma milagrosa. Mas, sempre pedi por médicos, medicamentos e tratamentos eficientes e as condições de usá-los. Hoje tenho tudo isso, e nisso que me seguro. E, tenho certeza, que é através deles, e das diversas orações das pessoas que me amam, que Deus cuida de mim.
1.http://revistagrandestemas.blogspot.com.br/2010/05/religioes-texto-de-jeane-batista-aborda.html