sexta-feira, 15 de março de 2013

QUAL É O PROBLEMA DE LER SABRINA?

Quando eu era adolescente, ou quase chegando lá, eu li alguns dos romances Sabrina, Julia, Bianca e outros da mesma linha. E os pegava emprestado de colegas da escola.  Os lia furtivamente, claro, pois minha mãe não permitia que eu os lesse, pois eles eram considerados impróprios, vulgares, proibidos para meninas mocinhas, inocentes. Nada mais eram do que historinhas de amor proibido, que sempre começava com uma mocinha inocente, que se apaixona perdidamente por um homem, sempre mais velho, rico, experiente e que de inicio não se entrega totalmente ao amor. Seguia com relações tórridas, com amassos e beijos quentes e terminava com a mocinha e o herói, depois de muitos desencontros, se declarando um ao outro e se entregando a um amor do tipo "e foram felizes para sempre". Esses romances estavam muito associadas a empregadas domésticas e trabalhadoras com menor nível de escolaridade.  Não se esperava nada dessa literatura, se não a distração e um pouquinho de romance apimentado.

Há alguns meses atrás a trilogia "50 Tons de Cinza" chegou ao mercado editoral brasileiro.  Eu já havia lido sobre o alvoroço que já vinha provocando no mundo inteiro, estando sempre na lista dos mais vendidos.  Li também as diversas críticas negativas, de um lado, e positivas (para quem havia gostado muito da história), do outro. De feministas radicais, sociólogos, religiosos e defensores da moral e dos bons costumes vinham as mais severas críticas sobre a forma como o romance tratava a mulher.  De início, não tive o menor interesse em ler, mas fiquei curiosa por causa das discussões que chegavam a todo instante, além da divulgação nas redes sociais.

Em uma promoção em um site de vendas, comprei o volume 1.  Guardei em casa, pois estava lendo outra literatura; emprestei para uma amiga, que leu, não achou nada demais e me devolveu, e aí eu o guardei de novo.  Meses depois, para aliviar um pouco a cabeça de leituras pesadas, resolvi pegar e começar a ler o tão debatido romance. De cara me lembrei dos romances de minha adolescência, claro, um pouco mais sofisticado, um pouco mais de história e bons motivos para ser um dos romances mais discutidos do ano.  A mocinha era submetida a relações sado-masoquistas, e gostava!

Li o primeiro volume, confesso que  pulando algumas páginas.  Não estava disposta a comprar os outros volumes, mas queria saber como terminava a história picante da Srta. Steele e do Sr Grey. Como uma amiga tinha os três, esperei que ela os lesse e me emprestasse, assim li os outros. Na verdade, estou terminando o terceiro.  Mas, desde o primeiro me questionei.  Qual o problema do romance?  Por que tanto alvoroço? Por que perseguir e acusar as leitoras de, mal gosto e  pouca capacidade intelectual? Por que considerar machista o personagem que gosta de sexo selvagem, e por que acusar a mocinha, ou seria, jovem inocente, de se submeter aos caprichos do amante?

Conquistamos muitas coisas nos últimos séculos, conquistamos direitos que nossas mães nem ousavam pensar.  Escolhemos casar ou não, escolhemos nossos maridos, escolhemos ter filhos ou não, trabalhamos, estudamos e lemos o que queremos,  muitos outros direitos sociais e políticos.  Mas, parece que também ficamos na obrigação de não querer e não aceitar nada daquilo que nossa avós e mães lutaram contra.  Por isso, quando há uma mulher que quer casar, ter filhos e ficar em casa cuidando do marido, logo são acusadas de serem retrógradas. Quando conhecemos mulheres que gostam de homens que pagam a conta, que abrem a porta do carro e são gentis, logo as acusamos de "mulherzinhas", de forma pejorativa. São acusadas de não valorizarem as conquistas femininas.

E, eu acho que é justamente esse o "problema" da "mocinha" do livro.  Ela é livre para ser o que quiser, gostar do que quiser, fazer o que quiser.  Ela é independente, estuda, trabalha fora e sonha com um romance encantado. Como qualquer mulher.  Mas, aí ela encontra um amante, que não é bem o princípe encantado que todas esperam.  Ele é jovem, bonito e rico, mas é dominador e gosta de subjugar a companheira, gosta de sexo selvagem.  E a mocinha, que se assusta num primeiro momento, descobre que ela também gosta.  Mas, aí quem não gosta são os/as moralistas de plantão, que acham um pouco demais que mulheres aceitem ser submissas por vontade própria em pleno século XXI.

Mas há também, a arrogância dos intelectuais, que acham que ninguém deve gostar de livros de auto-ajuda, romances populares e biografias de famosos relâmpagos. Todos devem ser obrigados a ler, no mínimo Clarice Lispector, Jorge Amado e Machado de Assis.  

Porque não gosto e não leio, não posso condenar quem o faz.  Acredito que a leitura desses romances na minha adolescencia me ajudaram muito no meu desenvolvimento de ler e escrever.  Era o que eu tinha no momento.  Hoje, não os leio mais, mas não condeno quem os lê.

Conclusão?  Muita tempestade em um copo d'água.

sexta-feira, 8 de março de 2013

INTERCÂMBIO PÓS 40


Já viajei sozinha várias vezes e não vejo nenhum problema nisso!  Curto poder fazer meus próprios roteiros e segui-los conforme minha disposição. Mas é claro que viajar acompanhada tem suas vantagens, e muitas! Boa companhia para viajar é sempre muito bom.  Boa companhia!!  Aquela que compartilha com você os mesmos interesses numa viagem. No entanto, nunca tinha feito uma viagem internacional sozinha.

Em 2011 resolvi ir à França.  Finalmente, eu ia conhecer a cidade dos meus sonhos: Paris.  Agora eu tinha tempo, férias e dinheiro para poder ficar um mês na Cidade Luz. À princípio havia pedido uma licença de três meses no trabalho (como funcionaria pública tenho esse direito) para estudar.  Com a liberação pretendia passar esses meses em Paris estudando francês e me preparando para um pós-doc.  A solicitação não foi aceita, então, eu só teria o mês das minhas férias.  Resolvi aproveitar esse tempo mesmo para treinar um pouquinho o idioma, o qual ja tinha um bom conhecimento.

Como ia sozinha, fiquei meio apreensiva de ir sem um apoio para qualquer emergência. Um mês em um país distante, sozinha e sem conhecer ninguém era no mínimo, tenso.  Então, resolvi procurar uma agência de intercâmbio.  Um amigo, com mesma idade, já havia tido uma experiência em Londres, gostou e me recomendou uma agência.

Além da sugerida por ele, pesquisei outras, li depoimentos, verifiquei preços, e acabei por contratar os serviços da www.portaldointercambio.com.br, apostando na dica do meu amigo. Fui super bem atendida e orientada.  Coloquei para eles meu objetivo, minhas necessidades e minhas exigências.  Quando tudo estava organizado fui à loja e lá o Philipe, que me atendeu todo o tempo, me passou todos os documentos necessários, endereço da casa onde ia ficar, endereço e horário do curso de francês, além de me mostrar no google maps a localidade do endereço da residência onde ficaria por um mês.  Isso foi super importante, pois, quando cheguei em Paris, acabei orientando o motorista (que não conhecia o endereço) a chegar no lugar, e quando visualizei o prédio, imediatamente me localizei!

Assim viajei.  Não tive nenhum problema na imigração, peguei um táxi no aeoroporto e me dirigi à casa onde ia ficar hospedada. Minha famille accueil era formada por um casal e um adolescente; tinha um quarto só pra mim (exigência minha), com café da manhã e jantar (opção também escolhida por mim). A família possuía roteador, portanto, pude usar o wi-fi sem problemas. Além disso, pagando, tive minhas roupas lavadas e passadas dentro de casa.

Passei a maior parte do tempo em contato com a dona da casa.  Apesar da limitação da língua (só quando cheguei no país verifiquei  como meu francês estava limitado) ela foi sempre muito solícita e educada, a despeito do que falam dos franceses.  

Eu saía cedo para o curso (que era pela manhã) e passava todo o restante do dia conhecendo Paris.  Voltava sempre à noite, morta de cansada.  Jantava, via meus emails e dormia!!

Verifiquei a rotina da casa e respeitei horários e costumes, como respeitar o horário do café da manhã, do jantar, e do banho. Não tive nenhum problema com a família.  Ao contrário, me senti em casa!

Portanto, super indico para quem deseja visitar outro país, conhecer os costumes de uma família nativa, economizar e ter mais segurança.  Pretendo fazer outros!

quarta-feira, 6 de março de 2013

ONDE OS POBRES NÃO TÊM VEZ

Hoje (ou melhor, ontem, porque já é outro dia) morreu o maior lider que a Venezuela já teve.  Morreu Hugo Chaves, ditador, como os democratas gostam de chamar aqueles que ficam "eternamente" no poder.

Mas, políticas à parte, foi interessante acompanhar o acontecimento na grande mídia e nas redes sociais.  Claro que, há aqueles que, sem qualquer conhecimento da história venezuelana, se sentiram felizes por termos menos um ditador no planeta; outros, socialistas, comunistas, esperançosos ou, para muitos, loucos, choraram e temeram pelo tão sofrido país, órfão do seu presidente e agora à mercer dos salvadores da pátria oferecendo hamburgeres e coca-colas. Rico em petróleo, mas com uma pobreza imensa; contraditório, como qualquer país pobre que vive subjugado pelas grandes nações.  Se há miséria é porque há gente muito rica por lá, como aqui, acumulando toda a riqueza em poucas centenas de milionários.

Mas, o que me chamou a atenção e ja hávia percebido isso antes, aqui mesmo em nosso país, é que há uma dificuldade da classe dominante (essa mesma, que detém os meios de produção, a terra e a riqueza do país) em aceitar a ascenção do pobres.  Principalmente, se para isso, a chamada classe média (aquela, que não é nem rica, nem pobre) perde um pedacinho do seu queijo de minas no café da manhã.  Puxa, João e Maria agora tem café da manhã, mas eu perdi o meu presuntinho com melão, como eu fico?  Ouvi várias pessoas postarem em seus Faces "tudo bem, os pobres melhoraram de vida" (lá e aqui no Brasil), mas a classe média empobreceu"!

A classe média perdeu o que nunca teve, ou se teve é porque logo abaixo dela, milhares morriam de fome, para que ela comesse seu queijinho e tivesse sua tv paga e internet 25 mega!!  Como ela não conseguia chegar lá em cima, de jatinhos particulares, e finais de semana em Paris, se sentia por cima da carne seca, porque podia, ir ao shopping, viajar pelo Brasil e ir de vez enquando a Paris ou NY fazer compras.

Mas, os pobres ascenderam, e aí começaram a dividir o mesmo shopping, a mesma poltrona no avião, e imagina, se encontraram em Paris!!  Teve socialite reclamando de que "agora todo mundo pode ir a Paris"! Que chato!

E, quando isso acontece, ninguém fica feliz porque a riqueza se divide, e para que todos ganhem alguem tem que perder.  Todos querem um país rico e sem miséria, mas que não saia do seu quinhão.  E, aí, quando há um presidente que olha para os mais pobres ele é populista, é comunista, é ditador... não presta!

Finalizo com a eterna e sempre atual frase de Marx:

"Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas." 

PS. Não estou negando as ditaduras, os populismos etc; apenas que devemos ter cuidado e observar que condena e quem defende, antes de julgar!


Foto (http://logosecb.blogspot.com.br/2010/06/sera-que-cada-um-de-nos-tem-obrigacao.html)